quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PAIS QUE AMAM DEMAIS


Tenho observado muito o comportamento de pais e filhos e fico perplexa com algumas coisas que vejo...


Podem falar o que quiser, dizer que "pessoas sem filhos são chatas, não entendem nada de amor maternal/paternal etc", mas o fato é que quem está de fora observa muito melhor... Aliás, a frase "o amor é cego" não foi inventada por mim, e se encaixa perfeitamente no assunto.


O fato é que os pais, na ânsia de fazerem certo, fazem muita coisa errada! E "ai" de quem os alertar disso! É discussão na certa!


E então querem tudo perfeito: excesso de higiene, excesso de atividades extracurriculares, excesso de presentes fora de hora, excesso de brinquedos, festas todos os anos (e com tema escolhido pelo aniversariante), excesso de zelo. E com toda essas tarefas, os pais não tem tempo para impor limites, apresentar tarefas domésticas, ensinar boas maneiras etc. E é por isso que nos impressionamos tanto quando vemos alguma criança dizer "Obrigado", "Por favor"... coisas que deveriam ser "normais" nos parecem coisas de outro mundo!


E aí vi uma reportagem da revista Época muito bacana, que transcrevo aqui, de forma um pouco resumida:


Pais que amam demais atrapalham filhos
Na ânsia de preparar os filhos para o futuro, muitos pais extrapolam no carinho e nas atividades educativas. Que tipo de filho eles criam? (Martha Mendonça)

Todos os pais querem que seus filhos sejam bem-sucedidos. E a receita é clara: como na infância nosso cérebro é mais propenso ao aprendizado, basta desenvolvê-lo ao máximo, desde o mais cedo possível. Infelizmente, ninguém consegue prever o futuro – e portanto não há como saber quais habilidades serão mais importantes quando nossos pequenos tesouros virarem adultos. O que faz um bom pai, nesse caso? Claro! Aposta no máximo de atividades. Escola bilíngue, curso de uma terceira língua, iniciação musical, aulas de etiqueta, ginástica, natação... No tempo livre, por que não aproveitar para divertir as crianças com um bom DVD educativo?


Mas esse investimento todo não vai valer nada se não soubermos proteger e amparar as crianças de todos os perigos desta vida. Então é preciso aceitar o sacrifício de levá-las e trazê-las de carro de todos os compromissos e manter a constante possibilidade de contato pelo celular – esse moderno e abençoado cordão umbilical tecnológico.


Só há um pequeno porém com essa receita. Na verdade, dois. O primeiro é que segui-la sai um pouco caro, tanto em dinheiro como em preocupações. O segundo é que... essa fórmula pode dar errado. Bem errado.


Depois de umas boas décadas em que grande parte dos psicólogos, educadores, cientistas e empresários estimulava o esforço pelo desenvolvimento planejado das crianças, estamos vendo agora um novo fenômeno: o combate ao excesso de zelo dos pais. Uma recente reportagem da revista americana New Yorker define o fenômeno como "overparenting". Trata-se dos hiperpais, pais superprovedores – ou simplesmente pais demais. Eles são o avesso dos pais negligentes. Protegem demais, são indulgentes demais e sentem uma ânsia que os leva a resolver todos os problemas das crianças. Alguns desses espécimes atendem pelo apelido de "pais-helicóptero", porque estão sempre, de alguma maneira, “sobrevoando” os filhos, impedindo que encontrem suas próprias saídas e tenham seus momentos de solidão e brincadeira. Esses momentos são imprescindíveis para que as crianças aprendam a pensar por si próprias – e se tornem adultos independentes e conscientes. O novo discurso é que nada substitui a brincadeira como atividade para desenvolver a inteligência e as habilidades sociais, e a melhor maneira de um adolescente aprender algo é pelo método de tentativa e erro.


Até no campo da medicina esse discurso vem ganhando força. Um dos comportamentos mais comuns dos hiperpais é o cuidado extremo com a higiene. E quem poderia condenar isso? Os médicos. Peter Liquornik, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, é um exemplo. “Muitos bebês ficam com seu amadurecimento imunológico comprometido pela mania de limpeza e esterilização dos pais. A natureza faz a criança engatinhar e colocar tudo na boca porque é assim que ela vai criar suas defesas”, diz. Segundo Liquornik, existe hoje uma superproteção das crianças, que muitas vezes ficam impedidas de brincar, de se sujar, em nome de uma higiene exacerbada. Ninguém precisa entregar bolas de sujeira para os filhos lamberem, mas, se eles não tiverem algum contato com as imperfeições do mundo, não criarão anticorpos suficientes.


“Se não há dificuldades na vida das crianças, elas não vão desenvolver muitas habilidades”, diz a americana Hara Marano, editora da revista Psychology Today e autora do livro A nation of wimps: the high cost of invasive parenting (Uma nação de fracos: o alto custo da paternidade invasiva), lançado em 2008. “É como amarrar os sapatos: na primeira, na segunda ou na terceira vez eles não conseguem. Em vez de amarrar para eles, deixe que andem com os cadarços soltos de vez em quando. Vão começar a tentar sozinhos até aprender.” Marano acredita que os valores ocidentais de competitividade tenham gerado essa “hiperpaternidade” no mundo contemporâneo. “Os pais foram tomados por uma enorme ansiedade, focada na vida dos filhos. Querem resolver o futuro deles agora, querem ser eficientes. Mas eficiência é um valor da profissão, não da criação de um filho.”


O foco intenso na criança é o cume de um processo que começou por volta do século XV. Até a Idade Média, a infância não era valorizada. A partir do desmame (aos 3 ou 4 anos, naquela época), ela passava a viver no mundo adulto. Não havia escolas formais e a própria família não era nuclear. Conviviam na mesma casa pessoas de várias procedências. Com o início da Idade Moderna, a revolução liberal e, mais tarde, o Iluminismo e a formação da burguesia, o cuidado com a criança e os laços familiares se fortaleceram. Pais e filhos ficaram mais próximos, e a criança passou a ser vista como um indivíduo em formação, que precisa de atenção e tratamento especial.


Até aí, tudo bem. Mas hoje parece que não há apenas uma infância, e sim várias. O mercado de quartos infantis mostra isso. Há uma proposta de ambiente para cada idade. “O quarto cresce com a criança”, diz a arquiteta paranaense Kethlen Durski. “Há berços diferentes, camas que vão aumentando de tamanho, cores propícias para cada momento e até uma iluminação apropriada para cada fase.” Há quem coloque tapete de borracha pela casa para que a criança não se machuque ao engatinhar ou mesmo retire a maioria dos móveis da sala de estar (outra prova de excesso de zelo: a criança deve aprender a cair, diz a nova teoria).


A supervalorização do aprendizado na infância começou nos anos 80, quando pesquisas científicas comprovaram a plasticidade do cérebro do bebê e da criança pequena. “Aí surgiram as ideias de estimulação precoce que hoje levam a um exagero”, diz a psicanalista carioca Silvia Zornig.


“O bom pai é aquele que tem a coragem de entregar seu filho para o mundo. Quem não faz isso está subestimando a criança e atrapalhando seu futuro e sua felicidade. A mensagem que está sendo enviada para a criança é: você não é bom nem inteligente o bastante para ser bem-sucedido, seja lá no que for”.

2 comentários:

Unknown disse...

CI:
Acho que no mundo que hoje vivemos ( pluralidade cultural), diante de como tanto informação chega aos ouvidos das pessoas,exigências de sobrevivência etc, faz com que tudo se perca, diferenciando tanto a educação dos velhos tempos com a atual.
O amor de hoje traz estragos, mas, como trabalho com pais e filhos, posso dizer que, mesmo amando demais ( claro que estou me referindo a uma dosagem ideal), mas tendo consciência de tudo o que há a volta, HOJE as crianças têm mais amor e até dedicação ( principalmente falando da figura PATERNA, que pouco presente sempre foi) - mesmo com pais que trabalham tanto. Têm mais informação, mais companheirismo, e o excesso de zelo/ amor produz pessoas mais humanas, capazes de serem cidadãos melhores.
No passado, os pais impunham a seus filhos os seus pensamentos,as suas vontades, a sua forma de sentir e ver o mundo. Hoje, os pais sabem que eles lutam pela sua liberdade, numa busca de si mesmo e de sua identidade. Precisam saber QUEM SÃO para desenvolver sua auto-cognição.
Pessoas são pessoas, seres humanos, e da mesma forma que sem má intenção erramos com os filhos, erramos com o próximo, no relacionamento familiar, no trabalho, pois somos humanos! Mas FILHOS são uma parte da gente, onde queremos sempre o melhor, num amor incondicional mesmo. Fazemos tudo o que está e o que não está ao nosso alcance, sabendo que por ali, eles poderão ter oportunidades melhores e, principalmente, sentirem-se AMADOS, protegidos, orientados. Creio que com tanto informação, nós profissionais de educação, buscamos MESCLAR a educação do passado com a atual, pois é o ideal para a construção de um novo mundo- menos violento, mais humano.
Creio que ao invés de criticarmos quem tem filhos e quem não os têm, é hora de todos se unirem e discutirem o que precisa ser feito para que possamos deixar um mundo melhor para nossos filhos, netos, irmãos, primos, seja lá quem for! Do jeito que as pessoas não se respeitam, se violentam, querem ser uns melhores e maiores do que os outros, pouco dialogam,fica difícil entender porquê a culpa de crianças difíceis é só dos pais, sendo que as pessoas do mundo só pensam em interesses próprios, não há ajuda mútua,cumplicidade, amor!Este é o exemplo diário de seres humanos que todas as crianças têm.
Então...como acreditar que as crianças de hoje, que não dizem OBRIGADO,bom dia são assim por culpa de seus pais?
Os pais têm o dever de dar proteção, mas o mal ultrapassa os limites, a barreira da proteção, e aí, é onde fazemos o que os olhos não vêem, mas o coração sente!

BJks
Lu

Cibele disse...

Adorei saber que minha sobrinha mais velha tb lê meu blog de vez em quando... rsrsrsrs

Mas vamos ao assunto:
- Concordo que os pais sempre querem o melhor para seus filhos, mas nem sempre o que eles ACHAM melhor é REALMENTE melhor...
- Não acredito que nossos pais e avós nos amassem menos do que os pais e avós de hoje em dia (e eles eram mais "educadores" do que os pais de hoje)...
- Concordo com o fato de que os pais são mais participativos! E isso é realmente bom!
- Na minha opinião, excesso de zelo/amor não produz pessoas mais humanas, capazes de serem cidadãos melhores... produzem pessoas centradas no próprio umbigo, que irão sofrer depois com as frustrações da vida... Aliás, a palavra "excesso" já indica que o limite foi extrapolado!
- Acho bacana que os profissionais da educação estão na busca de mesclar a educação do passado com a atual, pois deve ser a ideal.
- Ainda acredito que educação vem de berço, e isso significa que os pais têm papel FUNDAMENTAL nesse processo! É em casa que se aprende a dividir, a respeitar os outros, a agradecer... E se em casa não se aprende, vale o que se vê na rua!
Não sei se consegui me expressar bem... não se trata de criticar quem tem filhos ou quem não tem, mas de realmente discutir assuntos um tanto "polêmicos", mas que podem tornar o mundo diferente!

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