terça-feira, 10 de abril de 2012

Fazendo de conta que ajudo os outros

Na revista Sorria (vendida exclusivamente nas Drogarias Raia) do mês de outubro do ano passado, uma reportagem me chamou a atenção: fala sobre o "Slacktivism". Assunto interessante nos dias de hoje, em que as pessoas acham que basta um click para ajudar alguém:

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Será que uma iniciativa virtual faz diferença na realidade? Nossa repórter se tornou uma ativista digital e descobriu, nos bastidores do engajamento on-line, o que funciona de verdade
Texto: Jaqueline Li // Ilustração: Bruno Algarve // Stil: Marcelo Trad
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Jaqueline, nossa ativista virtual: ela clicou, assinou, curtiu e viu o que há por trás dos movimentos digitais
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Centenas de possibilidades a um clique: alimentar crianças na África ou deixar as baleias de Abrolhos namorar em paz, ajudar mulheres com câncer de mama ou lutar contra a corrupção. Muito se diz sobre o poder da internet para mobilizar, engajar e agrupar pessoas em prol de uma causa. Só neste ano, com o apoio e a pressão das redes sociais, vimos nações se livrar de ditaduras na Primavera Árabe, pessoas condenar ações de grandes empresas e políticos assumir suas faltas. Tudo disponível on-line para quem quiser apoiar, ler, comentar e compartilhar, sem sair de casa. Mas será que a rede de computadores é mesmo capaz de transformar a realidade? Curiosa para descobrir até onde vai uma ação que começa no mundo virtual, aceitei o desafio de acompanhar, curtir e participar de movimentos por algumas causas que surgiram em minha tela. Por três semanas, eu virei uma ativista digital.

Pelo Facebook, a rede social que compartilha informações entre amigos, eu sempre fico sabendo de ações como marchas e festas em torno de alguma causa. Se ninguém me convida, vejo uma hora ou outra que um amigo confirmou presença. O mais difícil é filtrar tanta informação, escolher as causas que realmente têm a ver com o que acredito – e não as mais populares. Pesquisando sobre isso, eu descobri que muita gente cai no slacktivism (o ativismo de mentirinha), que não tem impacto nenhum na sociedade, mas faz com que o sujeito aparentemente se sinta bem. É uma forma de aliviar a consciência e mostrar aos outros que você faz algo. Ciente desse perigo, comecei os trabalhos.

Apoie essa causa

Ao entrar na vida de ativista, eu descobri que estava agindo para transformar a realidade toda vez que compartilho um texto, uma ideia ou as informações que considero relevantes. Mas, para ir mais longe, fui pondo meu nome em nove abaixo-assinados que achei interessantes, como um que pedia o veto da presidente Dilma ao novo código florestal, outro que faria com que o Saci Pererê tivesse uma data nacional em sua homenagem e na lista que exige que a polícia dinamarquesa não condene quatro integrantes do Greenpeace presos em uma manifestação pacífica.

Soube que algumas plataformas de sites de abaixo-assinados não fazem restrições à criação de listas. Há uma quantidade incontável de petições online produzidas diariamente, sem nenhuma moderação. A meta de assinaturas também muda constantemente – pode ser de 100, 100 mil ou 1 milhão. Além de isso parecer não ter fim, é muito fácil assinar nomes falsos ou multiplicar sua contribuição alterando um sobrenome ou alguma letra. Nenhum documento legal é necessário para provar a identidade – basta o e-mail, às vezes o número do CEP ou do telefone.

Minha maior dúvida era saber se esses documentos têm alguma utilidade prática. Foi aí que descobri que abaixo-assinados são apenas manifestações da opinião pública. A quem, de fato, se destinam, é apenas outra maneira de chamar atenção. No gabinete da Presidência da República, por exemplo, não faz muita diferença um documento chegar com só dez ou 250 mil assinaturas, porque fatalmente ele será engolido pela burocracia federal. Em geral, o autor das petições on-line não sabe quão popular será sua causa nem o que fará com as assinaturas. Assinei a causa que defende a ideia de que os professores da rede pública tenham o mesmo índice de reajuste salarial que os parlamentares, mas, quando fui atrás do organizador e dos políticos envolvidos, percebi que ninguém tinha noção de que a marca de mais de 166 mil assinaturas já havia sido atingida.

Ainda assim, algumas petições on-line têm destino mais prático. As assinaturas recolhidas contra o fechamento do Cine Belas Artes, em São Paulo, tornaram-se um dos documentos mais importantes para o processo de tombamento do local como um patrimônio imaterial. E a Lei Ficha Limpa, uma ideia que virou projeto de lei de iniciativa popular, só surgiu por causa de 1,6 milhão de assinaturas físicas e mais de 2 milhões de virtuais – para que o abaixo-assinado tenha essa força, é necessário que 1% do eleitorado assine fisicamente uma petição, com firma reconhecida em cartório eleitoral. O que senti é que parece haver certo descompasso entre se mostrar disposto à mudança e estar pronto para levá-la a cabo. Das causas às quais assinei meu nome, não consegui resposta positiva sobre o destino de nenhuma delas. Muitas estão abertas até agora, e é possível que sigam assim ainda por muito tempo.

Ajude com seu clique

Além das listas, usei o mouse em sites que revertem cliques em doações de coisas palpáveis para organizações não governamentais, como comida e mamografias. São sites como o clickarvore.com.br, da ONG S.O.S. Mata Atlântica, que se propõe a reflorestar várias regiões do Brasil, sem cobrar nada do internauta (veja mais no quadro abaixo). Na maioria das vezes, os sites não exigem dados pessoais, e parecem uma forma fácil de ajudar – mas, como descobri, não funcionam como um passe de mágica.

As empresas que bancam as doações fazem isso em troca de mais visibilidade na rede – cada vez que alguém clica para ajudar é obrigado a ver a marca. Ou seja, é uma maneira diferente de fazer permuta em troca de publicidade, mas com o intuito de resolver alguns problemas pontuais. O que pode funcionar. É assim que o Instituto Neo Mama, de Santos, no litoral de São Paulo, oferece em média 45 mamografias gratuitas por mês a mulheres carentes.

Empolgada, cliquei várias vezes no link. Porém, soube depois que não faz diferença se naquele mês o instituto recebeu só os meus ou 250 cliques: os patrocinadores disponibilizam um número fixo de mamografias por mês. Claro que a nossa participação facilita que as parcerias sejam firmadas, mas não é a quantidade de cliques que faz a quantidade real de doações.

Você curtiu isso

Minha última frente como ativista digital foram os movimentos voluntários. São as marchas ou protestos que, divulgados na internet, angariam adeptos que vão para a rua mostrar sua opinião. Acompanhei algumas dessas ações e percebi que as pessoas estão acostumadas a curtir e a dizer sim para tudo, mesmo que estejam a quilômetros do lugar onde vai acontecer a manifestação. Nas três marchas a que fui na Avenida Paulista, em São Paulo, o número de pessoas que confirmaram comigo a presença via Facebook não tinha nada a ver com a quantidade que apareceu lá em carne e osso.

Na primeira manifestação, em um sábado chuvoso, esperava cerca de 400 pessoas em defesa da floresta Amazônica. Encontrei quase o dobro. No domingo, no protesto por um Estado laico, 19 mil manifestantes disseram que estariam lá, mas eu só vi uns 30. Na marcha pela educação, cerca de 700 pessoas confirmaram a participação, mas havia pouco mais de 100 militantes nas ruas. Em outras cidades, eu percebi pelos comentários que isso também é comum.

Um exemplo é o caso Tonho Crocco, nome do músico e deputado estadual gaúcho que compôs um rap com o nome dos 36 parlamentares que aprovaram o aumento de 73% em seus salários. A música rendeu mais de 180 mil visualizações na web, e o cantor foi processado por ferir a honra dos deputados. Por semanas, os ativistas se movimentaram na rede e conseguiram arquivar o processo contra o compositor. Então, no dia em que aconteceria a audiência, uma manifestação foi agendada em Porto Alegre e, pelo Facebook, 15 mil pessoas confirmaram presença. O que se lê na página é a frustração de quem apareceu achando que encontraria uma festa e viu pouca coisa.

Conecte-se e compartilhe


Nas minhas semanas de ativista, eu percebi que a internet cumpre bem seu papel de difundir ideias sem filtros nem hierarquias. Conversando com Massimo di Felice, especialista em teoria da opinião pública da Universidade de São Paulo, soube que estamos presenciando uma nova forma de construção coletiva em que tudo e todos estão mais inteligentes e informados. A rede é a arma dos fracos, de quem nunca teve voz. Nela, todos têm o mesmo poder comunicativo e a informação não é retida por um expert. Isso não têm antecedentes na história. Para ele, a internet inaugura um novo nível de democracia, que deixa de ser opinativa e passa a ser colaborativa.

É verdade que a rede tem esse poder magnífico de encurtar distâncias e pôr as pessoas em grupos de debate e troca de informação. Gente de todos os níveis culturais e lugares se unem e, rapidamente, sabem o que acontece no mundo. Com isso, podem decidir vestir uma camisa ou propor mudanças. Mas, para que as transformações cheguem à vida real, elas precisam ter a ver com a minha realidade e me dizer alguma coisa. Mudanças locais são o que de melhor a internet pode fazer. A rede permite conexão com outras experiências globais que podem ser adaptadas à nossa realidade. Se tivermos de esperar que uma assinatura ou uma marcha virem uma ação, vai levar mais tempo. O ativismo virtual funciona, dependendo da causa, de quem está envolvido e de quão simples é a proposta de transformação. E, principalmente, de quanto se leva ela a sério, para além de só curtir.”



Click solidário

_Quem pode? Todo internauta.
_Onde? Em lugares como www.cancerdemama.com.br, onde você ajuda mulheres
a combater o câncer. Em www.cliquealimentos.com.br, você dá 1 quilo de alimento
à cidade que escolher, e no encurtador de links virou.gr, você doa comida à Cruz
Vermelha. Ao brincar no endereço www.construindoinfancia.com.br, você doa a uma
ONG que ajuda crianças e famílias carentes. Com o www.clickarvore.com.br, a ajuda
vai para o reflorestamento da mata Atlântica, e no www.cliquesemiarido.org.br, você
manda água para o sertão nordestino.
_Funciona? Parece que sim. Mas há quem diga que isso é mais assistencialismo
que ativismo. Encher a página de cliques quase nunca significa aumentar a quantidade
doada. Normalmente, as metas de doação são fixadas antes dos cliques.

Curtir e eu vou
_Quem pode? Todos que participam de redes sociais como Facebook, Orkut ou Twitter.
Mas prepare-se para pintar a cara, tomar chuva e caminhar na rua.
_Onde? Sua cidade deve ter movimentos estudantis, de trabalhadores e militantes que
promovem manifestações. Procure por temas com os quais você se identifica no Google
e no Facebook, ou siga pessoas relacionadas a essas ideias no Twitter.
_Funciona? Isoladamente, não. Mas, em coro, esses manifestos já conseguiram divulgar
o preconceito da deputada estadual Myrian Rios, eliminar as peles de animais das lojas
Arezzo e movimentar multidões contra os regimes autoritários no Oriente Médio. Espalhar
informações é uma forma de ativismo. O que não dá é para confirmar presença de mentira
em eventos. O número irreal frustra os participantes de verdade.

Abaixo-assinado
_Quem pode? Qualquer um cria
ou assina as opções da internet.
_Onde? Sites como o avaaz.org oferecem muitas causas, que pedem desde o fim
da guerra no Sudão até o impedimento da usina hidrelétrica de Belomonte. No sites
peticaopublica.com.br e abaixoassinado.org, qualquer um pode criar, divulgar e controlar uma
lista. A responsabilidade é de quem propõe o documento.
_Funciona? Às vezes. A mudança do sentido ou nome de uma rua já deu certo, e, em São Paulo,
uma delegacia contra maus tratos a animais foi oficializada por um abaixo-assinado, site e cause
no Facebook. Mas, para que uma ideia vire projeto de lei de iniciativa popular, é preciso que 1%
dos eleitores assine fisicamente uma petição e reconheça firma em cartório eleitoral. Assinar
documentos é fácil, mas, para haver mudanças, é preciso acompanhar todo o processo.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DEUS SEGUNDO SPINOZA

Para reflexão. Interessante visão do filósofo Baruch Spinoza (1632 - 1677)

DEUS SEGUNDO SPINOZA
( Deus falando com você )

Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é
que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que
Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo
construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo
mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade
fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu
amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo
o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver
comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,
no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me
encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me
irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te
enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos,
de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te
culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês
que eu poderia criar um lugar para queimar
a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da
eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são
artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única
coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida,
que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem
um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há
pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um
conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de
existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste
comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero
que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas
tua filhinha, quando acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas
relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o
jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te
ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui,
que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que
precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que
estou, batendo em ti.

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