quarta-feira, 5 de março de 2014

PAÍS SEM POVO (um desabafo)

Resolvi dar um tempo sem Facebook. Passei muito tempo escrevendo coisas que penso, contestando, "criando polêmica" - como gostam de dizer.

Algumas vezes fui mal interpretada, em outras criei inimizades. Mas não posso negar que Facebook é um interessante meio de pesquisa. Se quiser saber como é uma pessoa, dê uma passadinha no Facebook dela. É lá que se vê o que realmente a pessoa pensa. 

E uma das coisas que sempre gostei foi de defender o Brasil. O MEU país.  Mas já tô de saco cheio.

Ultimamente enxergo o Brasil como um enorme prédio. E fora dele, enxergo milhares de pessoas unidas com um único fim: destruir esse prédio! E lá estão elas: umas pichando, outras jogando pedras, outras tacando fogo e outras, mais ávidas, com marretas, picaretas... quebrando com vontade mesmo!

Imagino que vai chegar uma hora que o prédio vai cair - não há como suportar. É muita gente empenhada. Só que o prédio vai cair por cima dos próprios demolidores.

Não há o que fazer. Por mais que se tente defender, sempre terá alguém por perto pra te lembrar que os políticos não prestam, que o povo é sem educação, que a educação e a saúde pública vão de mal a pior... 

Nunca vi um povo tão empenhado em falar mal do próprio país. Não conheço outro povo que faça vídeos falando mal do próprio país no ano em que sediará a Copa do Mundo. 

Vejo estes vídeos e fico enojada. Não consigo ver até o final. É muito pra minha cabeça... Não consigo entender o que faz essa criatura viver aqui.

Outro dia li uma frase atribuída a Lima Barreto (escritor brasileiro que viveu de 1.881 a 1.922): "O Brasil não tem povo, tem público."

E acho que é isso mesmo. Nem sei em que contexto Lima Barreto disse isso, nem sei se foi ele mesmo que disse (também já cansei de pesquisar essas coisas, pois percebi que ninguém liga pra isso mesmo). Seja lá quem foi que disse, acho que tem toda a razão.

O que falta nesse país é identidade. Falta quem se apegue, quem queira defender, quem goste! Por que aqui todo mundo é estrangeiro: um é descendente de alemão, outro é de italiano, outro é de português, e por aí vai. Mas ninguém quer ser brasileiro. Inclusive em época de Copa do Mundo, tá cheio de gente nascida aqui que vai torcer contra o Brasil no caso do time do seu "país de origem" ser o rival. Todo esse amor porque o seu TATARAVÔ NASCEU LÁ! Dá pra acreditar?

O fato é que a gente nunca quer falar mal de quem a gente gosta não é mesmo? Pode ser a maior verdade do mundo... mas a gente não fala.

Quer alguns exemplos? Nunca vi ninguém dizer "Meu pai é um vagabundo"; "Minha mãe não sabe educar ninguém"; "Minha irmã é uma bêbada"; "meu tio é um idiota; "meu filho é um aproveitador"; "minha filha não vale o pão que come" - MESMO QUE SEJA VERDADE! Aliás, já vi sim: quando a pessoa detesta outra, fala até o que não deve.

E assim é com o Brasil. Sai uma matéria lá na França, alertando os turistas quanto ao risco de assalto nas grandes cidades do Brasil: "brasileiro" dá até uma incrementada - inclui problemas com enchentes, com corrupção - e posta no Facebook juntamente com uma frase assim: "O pior é que é verdade!"... 

E os amigos compartilham, compartilham!!! Se puderem, incluem mais alguns problemas! Sempre se desculpando: "mas é verdade!". 

Pessoas que aqui vivem (chamados de brasileiros) A-DO-RAM falar mal do Brasil! Afinal, não é o seu país... é um país que acolheu seus ascendentes, apenas isso. É o país que paga seu salário. E assim que puderem, dizem, vão "cair fora dessa encrenca, ah se vão"! 

Se eu tivesse filhos, acho que continuaria empenhada na defesa do Brasil. Gostaria de tentar fazer do Brasil um país melhor. Mas não vou deixar descendentes diretos. Meu tempo por aqui não será tão longo (com sorte mais uns 50 anos... quem sabe?) Então... vou me estressar pra quê?

Da próxima vez que estiver por perto de alguém que goste de detonar o Brasil, resta-me ficar calada. Cansei.  Boa sorte pra quem ficar até a demolição total! 





6 comentários:

Cristina Zal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina Zal disse...

Uauuuuuuuuu, Ci!! Gostei! Apesar de que estou entre as pessoas que apedrejam o prédio...rsrs. Mas, acredito que não seja por não gostar do nosso país, mas, depois de tantas coisas acontecendo, o nosso país afundando, não vejo boas perspectivas. Aliás, nunca gostei de futebol e me revoltei muito que nosso país irá sediar a copa, afinal, há tanta coisa que precisamos fazer antes disto... mas o nosso Brasil não vai mudar, é cultura, é preguiça, é corrupção... e olha que já defendi e muito aqui, nunca imaginei que um dia pensaria em sair daqui, mas, hoje já estou repensando... espero que eu esteja errada e as coisas melhorem! Independente da minha opinião, adorei a sua!! E viva a democracia!! Bjoooo!

Unknown disse...

Concordo com seu posicionamento, admiro sua expressividade e inconformidade demonstradas através do sincero texto. Aproveito a ocasião e tomo a liberdade para refletir sobre conceitos de crença.

A descrença coletiva que assola o país é algo que a meu ver está nítida em estados como São Paulo. Não posso afirmar que outros estados tenham tamanho ímpeto em desmoralizar e agredir o Brasil, pois pra mim isso é coisa de paulista e paulistano que vive em cidades relativamente ricas.

Não tive a oportunidade de conhecer muitos outros estados para afirmar categoricamente o que dizem por lá, mas é bem possível que a mentalidade não seja muito diferente dos paulistas.

De qualquer forma, a respeito desse texto de extrema qualidade observativa e participativa, não posso deixar de atentar para o enfocado problema da crença coletiva. Acreditar na nação em que vive demanda uma série de superação de barreiras onde a primeira delas é acreditar em si mesmo como sujeito que tenha potencial de concretizar uma mudança, seja através do trabalho e da atitude enquanto cidadão.

Acreditar em si é condição essencial para se poder afirmar que mudanças em direção ao bem e ao melhor são amplamente passíveis de realização e ressalto que tal fato não se configura como arrogância já que é pensado em uma escala coletiva, tendo o outro não como adversário, mas sim como cúmplice.

Certa vez um teórico da sociologia disse: "Qualificaremos o sistema político quando lutarmos pelos direitos dos próximos e não apenas pelos nossos”
Acho que tal pensamento resume a ideia de potencialidade enquanto cidadão que acredita em si e luta para que o próximo tenha seus direitos defendidos e resguardados. Acredito que tal espírito que deve refletir em uma cultura para que a mesma possa defender sua nação e consequentemente seu país.

Ora se pensarmos nesse aspecto vê-se que o regime nazista alemão foi o ápice de um modelo de crença coletiva, mas que no entanto resvalou em sua própria decadência moral. É claro que não podemos comparar a realidade brasileira com aquela nascida ainda na república de Weimar em 1919, no entanto é possível tomá-la para entendermos um modelo de pensamento que culminou em uma ascensão comparada ao primeiro e segundo reich.

Particularmente acredito que esses que agridem o Brasil de forma enfática, demonstrando os defeitos e expondo suas lacunas sócio-políticas, não tiveram a oportunidade de conhecer outra realidade social. Villa-Lobos dizia: “Quanto mais nacionais formos, mais internacionais seremos”.

Um país que é desmantelado por um povo medíocre que acredita ter raízes oriundas das mais variadas nacionalidades e que não pertencem à nação são ignorantes que jamais estudaram os conceitos de uma formação sócio-política e que deitados em berço esplêndido lamentam a realidade brasileira tomando como modelo a realidade de países dos quais só viram uma parte da história, a atualidade.

é ainda importante notar que a arte brasileira de 1922 de certa forma profetizou e defendeu a importância de uma cultura nacional, do herói brasileiro que não é nem cavaleiro medieval, nem o bom selvagem de Rousseau. É um herói sem nenhum caráter, mas mesmo sem caráter é herói. Macunaíma. A literatura e as artes plásticas se usaram muito da filosofia antropofágica e eu lamento muito que os brasileiros não façam o mesmo.

Para finalizar, tomo como exemplo o Rio Grande do Sul, estado pelo qual tenho imenso carinho e muita admiração. O que se vê presente nessa região é um povo voltado à conservação de seu patrimônio histórico e cultural, gente que mantém suas tradições vivas e conservam o valor em defendê-las e preservá-las. A crença que esse povo defende é modelo para o restante do Brasil que ainda persiste em manter posicionamentos levianos e medíocres em relação ao Brasil e ao fato de ser brasileiro.

Arnaldo Jabor relatou sua experiência em Porto Alegre e descreveu o fato através de um belíssimo texto que compartilho finalizando meus apontamentos.

Unknown disse...

SOBRE O RIO GRANDE
por Arnaldo Jabor

"Pois é. O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam "que horror". Sabem do roubo do político e falam "que vergonha".
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam "que absurdo".
Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem "que baixaria".
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram "que medo’.
E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição "neste país’.
Do ressentimento passivo à participação ativa.
Pois recentemente estive em Porto Alegre,onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa,todo mundo cantando a letra!
"Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o vinte de setembro o precursor da liberdade’.
Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo.
Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem.
Aquilo cria um espírito decomunidade ao qual eu, paulista,não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru,nos anos setenta, não sei mais o que é "comunidade’.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é... Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os "ressentimentos passivos’ se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de "basta" contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva,algo que há muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de mobilização.
Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados,sem personalidade, sem cultura própria, sem "liga".
Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa "liga’.
A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira.
Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda: "...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra…"

Denise disse...

Pois é Ci, não sou contra o Brasil, mas contra os governantes que estão comandando ele. Penso que são os principais destruidores do prédio, não me conformo com tantas injustiças e cobrança de impostos, uma verdadeira exploração do povo trabalhador. A maioria só pensa em tirar vantagem e olham para seus próprios umbigos. E o pior é que não tem o melhor candidato pra você escolher, temos que optar pelo menos mau...é o ó!!!
Gostaria de ter o melhor de tudo pro meu país, minha única opção é orar e pedir a Deus que ilumine e sensibilize os políticos e o povo por aqui.
Bjo queridona!!!

Unknown disse...

Concordo com a Denise.

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