quarta-feira, 16 de junho de 2010

A culpa por não ser magra

MAGREZA É VIRTUDE?

Por Leila Ferreira, para Marie Claire Brasil

Vivemos sob a ditadura da magreza: ser magro hoje é tão importante quanto ser honesto. Mas a regra, claro, só vale para o sexo feminino. Será que um dia voltaremos a comer sem culpa?

Ontem comi doce de leite com queijo. Anteontem tomei sorvete. E, entre uma e outra sobremesa, temperei minha vida com duas fatias de bolo de coco. Enquanto desfrutava do sabor maravilhoso do doce, do sorvete e do bolo, tentei me lembrar de como é comer o que existe de mais gostoso sem sentir culpa. Não consegui. Aquela felicidade plena, aquela sensação maravilhosa de saborear um doce que se ama sem pensar em mais nada, sem sentir nada além daquele sabor, foi riscada do cotidiano das mulheres. No dicionário feminino, o verbete “prazer” vem sempre acompanhado da palavra “culpa” -pelo menos quando se fala de alimentação. Antigamente, nós, mulheres, não podíamos ter apetite sexual. Hoje não podemos ter apetite -ponto final. É por isso que eu sempre brinco que nos tiraram de Bangu 1 e passaram para Bangu 2. O endereço da cadeia mudou, mas continuamos prisioneiras. Antes era a moral que nos aprisionava. Hoje é a estética.

Ser magro, hoje, é tão importante quanto ser honesto. Aliás, vamos passar a frase para o feminino: a magreza nas mulheres hoje é tão valorizada quanto a honestidade. Sim, porque nos homens a magreza é apreciada e admirada. Mas, se eles forem cheinhos, a gente perdoa. O que nossa cultura não aceita é a mulher acima do peso -e o peso em questão é ela, a própria cultura, que define. Se a mulher não é magra, ela pelo menos tem que mostrar que se esforça 24 horas por dia para emagrecer. Se não luta contra os quilos, é vista como fraca, desleixada, indisciplinada, ou seja, o julgamento estético ganha um caráter moral. De volta ao começo? Mais uma vez a moral nos aprisionando?

Não é à toa que as mulheres hoje sobem na balança da mesma forma com que se ajoelhavam nos confessionários de antigamente: cheias de ansiedade e medo. Temem ser julgadas e punidas por seus excessos -não mais da alma, mas do corpo. É por isso que, quando vamos comer algo que engorda, a gente diz: “Eu mereço!”. Ou seja, estou em dia com os meus deveres, e por isso posso cometer essa pequena transgressão. É por isso, também, que os pais indianos listam a magreza da futura nora ao lado de predicados como séria e trabalhadora. Ser magra passou a ser uma virtude valorizada tanto na esfera social e no mercado de trabalho quanto no mercado matrimonial.

Saudades de Bangu 1? Não precisamos chegar a tanto. Nem a prisão da alma, nem a prisão do corpo. Além dos melhores bolos e dos melhores sorvetes, nós, mulheres, merecemos um mundo sem qualquer tipo de prisão.

5 comentários:

Fa Denzin disse...

Espero que não sejam só as gordinhas (como eu), grávidas ou não que venham comentar aqui..hehe.. mas, eu preciso falar! Eu discordo um pouco com essa autora do texto. Concordo com o que é imposto pela sociedade sobre a magreza, mas discordo sobre as prisões. Pra mim, cada um é que se prende dentro das próprias prisões, seja da magreza, da desilusão, do egoísmo, da cegueira espiritual, enfim, como já dizia meu querido idolatrado salve-salve cunhadinho CROVIS EL GOSTOZÒN, “cada um cava o buraco que quer cair”..haha. Á grosso modo é isso mesmo, o conceito de “normalidade” que a sociedade exige impregna as pessoas de um jeito que acabam ficando cegas e não conseguem perceber que elas tbem são a sociedade, e que, LUCIDAS não devem entrar nesse padrão de querer “ser normal”, afinal, ser normal é uma coisa muito relativa e subjetiva. Existem pessoas normais? O que é isso? Enfim, a prisão está em cada um e a chave que liberta dessa prisão tbem... basta saber em que bolso está guardada e usá-la. Assim a gente pára de culpar o outro, culpar essa sociedade.. ó sociedade cruel! E começar a ser autêntico, único, com vontades e desejos próprios, e sentir-se bem, gordo ou magro, branco ou preto, loiro ou moreno...mas ser quem a gente é de verdade... na essência. É isso que penso...

Lilian disse...

Bom... aqui vai o depoimento da recém-mãe, com uma pancinha chata que não quer ir embora... ;)

Acho que a sociedade e a mídia tentam impor algo que não é real... Magreza não é sinônimo nem de beleza, nem de saúde.

Mas, é claro que, se vc se alimentar corretamente (sem precisar se privar!) você vai ter um peso adequado a sua estrutura corporal. Acho que isso é que deveria contar: saúde!

E vamos lá... essa pancinha vai ter que ir embora... É que essa história de ficar em casa, amamentando e sendo paparicada o tempo todo (entenda-se: alimentada de coisas boas o tempo todo, tipo bolo de cenoura com cobertura de chocolate, mingauzinho de aveia, e etc...) não tá ajudando muito... rsrsrsrsrs...

Abaixo a ditadura da magreza! Sim à saúde!

Bjos,

Li

Fabiola disse...

Lilian.... as mamaes precisam ter um travesseirinho pros filhotes, por isso, uma pancinha sempre fica...rsrs....
Acho que ser gorda, magra, meio gorda, gordinha... depende de como a pessoa se sente bem. No meu caso, estou precisando com urgencia emagrecer uns quilinhos pelo simples fato de que minhas calcas nao servem mais e nao to podendo comprar novas....rsrsrs...mas nao to tendo muito sucesso nao, porque nao como menos e nem estou praticando esporte.... daí fica dificil....

Érica Lenita Blog´s disse...

Eu nem gosto muito de falar nesse assunto de tanto que eu escuto, das pessoas ao meu redor, do fato de eu ter engordado um "poucão".

Toda vez que a família está reunida, vem à tona esse assunto. E a conversa é sempre a mesma, que a Érica come muita porcaria, que come fora de hora, que não "manera" no que come, que não faz exercício... E daí? Quem tem que se preocupar com o meu corpo ou minha saúde sou eu!

Eu me sinto muito bem da maneira que sou, me considero até melhor em consideração aos anos anteriores, quando eu era um verdadeiro "palito"!

Padrão de beleza é ser magra? Rsrsrs, estou completamente fora dos padrões, então.

Unknown disse...

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