quarta-feira, 10 de março de 2010

Ainda no assunto das "máscaras sociais"

"Para todos nós - mas talvez principalmente para aqueles que vivem em ambientes urbanos complexos -, as máscaras sociais são um acessório indispensável em nosso guarda-roupa emocional. Na verdade, as pessoas incapazes de mascarar seus "verdadeiros" sentimentos costumam ser vistas (e com razão, diga-se de passagem) como imaturas, mentalmente desequilibradas, ou ambas as coisas.
Considere, por exemplo, o caso de dois convidados para jantar em que a anfitriã, sem saber, serve o prato de que menos gostam. Um revela seus verdadeiros sentimentos e pede um sanduíche sem fazer a menor cerimônia. O segundo mascara esses sentimentos e vai corajosamente em frente - senão com prazer, ao menos com espírito esportivo - até a refeição terminar. Se fosse eu quem estivesse dando o jantar, saberia quem convidar novamente (o fingimento, quando acontece, já pode ser uma recompensa). O que quero dizer é que as boas maneiras têm pouco a ver com a honestidade. (grifo meu) E o mesmo se pode dizer de formas mais complexas de comportamento social aceitável. Por isso, todo ser humano maduro é um verdadeiro virtuose na arte da falsidade.
Graças a Deus. Em um grau muito considerável, o que chamamos de autocontrole depende de nossa capacidade de "mascarar", de negar e reprimir o que vivenciamos, de falsear a realidade, inclusive para nós mesmos.
Embora profundamente mal-entendido nesse ponto, foi Freud quem observou os múltiplos dividendos que essa repressão pode nos dar. Nossa intimidade com as máscaras, dizia ele, possibilitou o surgimento da própria infra-estrutura de nossa vida coletiva, que ele chama de "civilização". É difícil discordar desse ponto de vista. A capacidade de fingimento emocional, de fazer de conta, de construir máscaras apropriadas às situações talvez seja nossa vantagem evolutiva mais duradoura. E também nossa maior maldição."

Esse é um trecho do livro de Susan Maushart, "A Máscara da Maternidade - Por que fingimos que ser mãe não muda nada". Transcrevi-o porque achei que tinha muito a ver com o texto anterior (Falsidade faz parte). E tem tudo a ver com a realidade!

Abração pra todos que seguem o blog!

14 comentários:

Fa Denzin disse...

Bom, realmente vestir máscaras faz parte da vida de todo mundo. Somos atores e atrizes em vários contextos do nosso cotidiano. Infelizmente o mundo capitalista e devorador nos cobra isso. Particularmente eu tento não vesti-las, mas muitas vezes me ferro por isso. è o preço que se paga,mas mesmo assim eu acho que não é um preço alto perto do benefício que isso traz.

Fa Denzin disse...

Agora, esse livro aí Ci, não o li, mas ser mãe muda muita coisa. A questão é que existem pessoas que acha que muda pra pior. Hoje que eu sou mãe posso dizer que muita coisa que pensava antes mudou completamente depois que Davi chegou. Ser mãe muda TUDO... mas TUDO PRA MELHOR!

Fa Denzin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cibele disse...

O livro (ainda não terminei de lê-lo)fala sobre a mudança geral que ocorre na vida das mulheres após a maternidade e da forma com que isso é "mascarado" a fim de não assustar mulheres que ainda não têm filhos. Mas esse "mascaramento" faz com que muitas mulheres que ainda não estavam preparadas para assumir a maternidade entrem num conflito muito forte, tornando-se péssimas mães!

Cibele disse...

A resenha do livro é esta: "Depois que uma mulher se torna mãe, sua personalidade e suas relações afetivas nunca mais são as mesmas: a presença da criança transforma completamente a visão que a mulher tem de si mesma, o casamento e a vida do casal. A Máscara da Maternidade oferece uma visão realista dos bastidores do que é ser mãe hoje em dia - da gravidez e do parto ao malabarismo que é a vida das mães que trabalham fora. Uma reflexão profunda que mostra que os medos, as frustrações e as confusões dos primeiros tempos da maternidade não são prova de fracasso pessoal, mas do fracasso de uma miríade de estruturas que não funcionam, de expectativas extravagantes e das demandas conflitantes. Susan Maushart escreve de forma atraente e convincente sobre o fato de que as mães de hoje sentem mais pressão do que nunca para se mostrar felizes com suas escolhas".
Detalhe: Susan Maushart tem 3 filhos! Ou seja: é bem experiente no assunto! rsrsrs

Cibele disse...

O fato é: não se discute no livro se a maternidade é boa ou ruim; o fato é que muitas mulheres "vendiam" a idéia de maternidade como algo perfeito, lindo, encantador e a realidade para as seguidoras dessa idéia era bem diferente: noites mal-dormidas, estresse, ansiedade, medo... o que as fazia sentir péssimas mães, já que não enxergavam aquele "paraíso" que vislumbravam na gravidez (ou antes dela).
Mas hoje acredito que isso mudou muito: hoje vejo a maioria das mães falando a verdade (muitas nasceram para ser mães mesmo - talvez seja o seu caso - e outras dizem claramente que tiveram suas vidas alteradas e que acham que não repetiriam a experiência - embora AMEM incondicionalmente seus filhos.)
Acho isso muito legal, afinal, na época de nossas avós era difícil até tocar nesse assunto (pensar em não ter filhos era uma coisa absurda!). A autora fala inclusive no livro que muitas mulheres nem sabiam como o filho "viria ao mundo" - esse assunto era um tabu... Imagine! Não havia diálogo, tudo era meio "escondido, proibido".Ter filhos era o natural, e pronto!

Mas ainda estou na metade do livro...

Fa Denzin disse...

é.. esse assunto é longo, e envolve algo a mais do que o racional, talvez eu tenha nascido pra ser mãe mesmo... kkk.. nao absorvo muito bem esse tipo de coisa que essa autora coloca, a ponto de problematizar essa questao da maternidade, como se as mães tivessem que fazer uma força tremenda pra serem feliz depois que os filhos nascem. O problema esta sendo invertido..nao é ser mãe o problema, mas sim ser mãe (q é algo natural, criado por Deus) nesse mundo capitalista onde todas as mulheres precisam trabalhar, estudar, viver pelo dinheiro e se esquecem que existe algo a mais: FORMAR FAMILIA. Talvez esse seja o cerne da discussão:formar família e nao ter filho.

Cibele disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cibele disse...

(Removi o meu comentário anterior, pois tinha erro de digitação)

OK, OK... Mas atenção, próximos "comentaristas": o tema de hoje são as "Máscaras Sociais" como um todo...rsrsrs O assunto polêmico sobre filhos deixaremos pra outro dia!!! hahaha

Fa Denzin disse...

Descuuuuuuuuuulpe por ter comentado sobre filhos, mas foi vc quem colocou de onde tirou o trecho e eu não resisti...
Meus posts também têm erros de digitação na concordância... posso deixar eles aí?

Unknown disse...

"Passado o carnaval todos colocam as máscaras..."

Unknown disse...

Eu concordo com a Fabiana no caso de ser mãe.. Muita coisa muda.
Principalmente no inicio, éum stress total. Vc não consegue mais fazer o que antes estava habituada a fazer e tem de fazer coisas novas que não estava habituada a fazer. Tempo ?? Com bebê ? Não existe, nem mesmo pra dormir.
Sair para um jantar à dois ? Vixe ! (Só se contar com a boa vontade das avós de vez em quando, porém eu não gosto de abusar, o filho é meu).
A relação com o marido também, muda completamente.. enfim.. ser mãe não é nada fácil, mas acredito que é uma consequência da vida. Com as suas excessões, óbvio.

Bjus Ci.. saudades !!!

Bianca disse...

Sejamos sinceros: todos nós já usamos ou continuamos usando algum tipo de máscara (eu por exemplo, hoje estou usando a máscara para cílios marrom da Loreal Paris, rs)... Só que, as pessoas admitirão isso de vezzzz em quando (o que não nos cabe julgamento).

Pra mim, a digestão deste "rótulo" é uma questão de maturidade e honestidade com os acontecimentos do cotidiano. Maturidade pra encarar a vida como ela é e honestidade pra admitir que somos seres HUMANOS e nos adaptamos SEMPRE de alguma forma ao meio em que vivemos, mesmo que inconscientemente.

"As máscaras sociais podem surgir consciente ou inconscientemente. As inconscientes são as que decorrem da busca de um parceiro, da necessidade que temos de ser aceitos em algum grupo, ou de manter um bom relacionamento com o chefe. As conscientes são as colocadas com o aberto propósito de tirar vantagem, ou corrigir desvios interiores que nos afligem, de uma maneira rápida e artificial, algo como pintar a fachada da casa torta com a tinta de nossa predileção. Exemplificar é um problema, porque as alternativas são infinitas, os meandros da psique humana são um manancial inesgotável de possibilidades – neles, tiramos o que há de melhor e de pior nas pessoas. Qualquer que seja a gênese da máscara, porém, quem a usa deve constantemente fazer um exame de consciência para avaliar as conseqüências desse escudo forjado, para si e para os outros, nunca esquecendo que do outro lado da máscara está alguém que acredita no seu discurso bonitinho e na sua desenhada cara limpa..."

"...vemos com facilidade a maldade nos outros, e temos imensa dificuldade em enxergar nossos próprios atos. Vemo-los como saíram de nós, naturais, espontâneos, inofensivos. Mas às vezes a mesma palavra saída de sua boca como elogio chega nos ouvidos do outro como desassombrada injúria. As equívocas palavras, que mesmo com todo o cuidado do mundo nos joga sem dó numa torre de babel, donde não raro só saímos com fraturas expostas."

“...somos responsáveis pelos nossos atos, pelas pessoas que passam por nossas vidas, pela consciência funda das atitudes que tomamos.”

Érica Lenita Blog´s disse...

Cí, melhor eu não expressar a minha opinião sobre o assunto maternidade, porque isso já deu muito o que falar...

Mas sobre as Máscaras, óbvio que todos nós as temos, mesmo que poucas ou talvez para preservar algumas amizades, ou conveniências adquiridas.

Deixar cair as máscaras e ser bastante sincera implica em ser considerada a "Miss Simpatia" (ironicamente) pelos amigos e colegas... acabamos não sendo aceitos por muitos. Mas esse é o preço que pagamos por fazermos determinadas escolhas.

Beijos!!

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