"Para todos nós - mas talvez principalmente para aqueles que vivem em ambientes urbanos complexos -, as máscaras sociais são um acessório indispensável em nosso guarda-roupa emocional. Na verdade, as pessoas incapazes de mascarar seus "verdadeiros" sentimentos costumam ser vistas (e com razão, diga-se de passagem) como imaturas, mentalmente desequilibradas, ou ambas as coisas.
Considere, por exemplo, o caso de dois convidados para jantar em que a anfitriã, sem saber, serve o prato de que menos gostam. Um revela seus verdadeiros sentimentos e pede um sanduíche sem fazer a menor cerimônia. O segundo mascara esses sentimentos e vai corajosamente em frente - senão com prazer, ao menos com espírito esportivo - até a refeição terminar. Se fosse eu quem estivesse dando o jantar, saberia quem convidar novamente (o fingimento, quando acontece, já pode ser uma recompensa). O que quero dizer é que as boas maneiras têm pouco a ver com a honestidade. (grifo meu) E o mesmo se pode dizer de formas mais complexas de comportamento social aceitável. Por isso, todo ser humano maduro é um verdadeiro virtuose na arte da falsidade.
Graças a Deus. Em um grau muito considerável, o que chamamos de autocontrole depende de nossa capacidade de "mascarar", de negar e reprimir o que vivenciamos, de falsear a realidade, inclusive para nós mesmos.
Embora profundamente mal-entendido nesse ponto, foi Freud quem observou os múltiplos dividendos que essa repressão pode nos dar. Nossa intimidade com as máscaras, dizia ele, possibilitou o surgimento da própria infra-estrutura de nossa vida coletiva, que ele chama de "civilização". É difícil discordar desse ponto de vista. A capacidade de fingimento emocional, de fazer de conta, de construir máscaras apropriadas às situações talvez seja nossa vantagem evolutiva mais duradoura. E também nossa maior maldição."
Esse é um trecho do livro de Susan Maushart, "A Máscara da Maternidade - Por que fingimos que ser mãe não muda nada". Transcrevi-o porque achei que tinha muito a ver com o texto anterior (Falsidade faz parte). E tem tudo a ver com a realidade!
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