segunda-feira, 9 de março de 2009

CRESCE O NÚMERO DE CASAIS SEM FILHOS

Cada vez mais casais decidem não ter filhos (23/11/2007 - 09h04 )

FLÁVIA MANTOVANIda Folha de S.Paulo

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, de 1996 para 2006, a porcentagem de casais sem filhos em relação ao total dos arranjos familiares cresceu de 13,1% para 15,6%.
No mesmo período, o percentual de casais com filhos caiu de 57,4% para 49,4%. Uma pesquisa do Datafolha divulgada no mês passado, na qual foram ouvidas 2.093 pessoas, também sugere a tendência: 14% dos entrevistados que se declararam casados afirmaram não ter filhos --em 1998, 10% haviam declarado o mesmo para o instituto.
Embora os dados não permitam separar os casais que não podem ter filhos daqueles que não querem, os especialistas garantem que esse último grupo é uma tendência em vários países.
Livros e clubes
Nos Estados Unidos e na Europa, onde a porcentagem de pessoas sem filhos pode chegar a 30% da população feminina (dado referente à Alemanha em 2005), os lançamentos do mercado editorial refletem o interesse pelo tema: a cada ano, é possível encontrar novos livros dedicados a casais sem filhos.
Entre os mais recentes, estão o americano "Pride and Joy: The Lives and Passions of Women Without Children" (Orgulho e Alegria: As vidas e Paixões de Mulheres sem filhos), de abril deste ano, e o francês "No Kid: Quarante Raisons de Ne Pas Avoir d'Enfant" (40 Razões Para Não Ter Filhos), publicado no último mês de maio.
Em países como EUA, Inglaterra e Canadá, já há organizações que oferecem apoio e informação para as pessoas sem filhos. Uma delas, o clube social sem fins lucrativos canadense No Kidding, tem filiais espalhadas pelo mundo que promovem atividades sociais como festas e caminhadas para casais e solteiros sem crianças.
No Brasil, onde não há esse grau de organização em relação ao assunto, o máximo que os entrevistados citaram foi a possibilidade de ir a hotéis e pousadas que não aceitam crianças. "Gostamos de saber que uma pousada não recebe crianças. Não porque a gente não goste delas. Não gostamos é dos pais, que não dão limites e não controlam os filhos", diz uma das entrevistadas.

Motivações
Segundo a terapeuta familiar Magdalena Ramos, do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a dificuldade de educar crianças na atualidade é um dos motivos que levam muitas mulheres a questionarem a vontade de engravidar.
"Cada vez mais as pessoas têm consciência do esforço que significa criar um filho, da dedicação e dos custos econômicos e emocionais envolvidos", diz.
Entre outras razões comuns para que muitos casais abdiquem da paternidade, Luci Mansur cita o desejo de se dedicar mais à relação conjugal, dúvidas sobre a capacidade de ser pai ou mãe, vontade de ter menor preocupação com questões financeiras e inquietações em relação à superpopulação e ao futuro do planeta.
Também há muitas mulheres que não chegam a tomar uma decisão consciente sobre o tema: adiam a maternidade para se dedicar à carreira, por exemplo, até que chega uma hora em que fica mais difícil engravidar e desistem.

Arbítrio
Para Magdalena Ramos, apesar de haver cobrança em relação aos casais sem filhos, hoje há mais liberdade de escolha. "Nas gerações passadas, o filho fazia parte do 'pacote' do casamento. Se o casal não tinha, a primeira coisa que pensavam era que um dos dois tinha algum problema. Hoje, a cobrança não é tão marcante, apesar de a situação ainda gerar desconforto."
Segundo Luci Mansur, as pesquisas mostram que casais sem filhos ainda sofrem muito preconceito e pressão. "Em pleno século 21, ouvimos comentários estigmatizantes como 'mulher sem filhos é como uma árvore seca, que não deu frutos'."
Muitos casais entrevistados pela Folha disseram que ouvem rotineiramente expressões como "aposto que vocês vão mudar de idéia", "não têm medo de se arrepender?" ou "mas quem vai cuidar de vocês na velhice?".
"Não é uma situação normal aos olhos das outras pessoas. Você vive dando explicações e é visto, muitas vezes, como egoísta", diz outra entrevistada. Ela lembra que leu uma entrevista com o fundador do clube No Kidding, Jerry Steinberg, na qual ele retruca dizendo que muita gente tem filhos por motivos egoístas.
"Por um lado, não engravidar é uma decisão egoísta, de querer ter liberdade, viver com menos turbulência. Mas muitas pessoas têm filhos por motivos egoístas também: por vaidade, para viver coisas que não puderam viver, exercer poder, dar continuidade ao nome da família", diz.
Sobre isso, aliás, ela garante que o fato de ser a última de seu ramo familiar não a fez pensar de novo na sua opção. "Isso não muda nada", afirma.
Realmente é uma opção difícil de assumir!

2 comentários:

Bianca disse...

Realmente esse assunto sempre gera polemica, mas cada um sabe de si e o que é melhor. Concordo plenamente que no mundo de hoje é super difícil criar um filho (em todos os aspectos), por isso, o meu "time de futebol" programado num passado nao tao longe, será reduzido a um jogador de futebol ou piloto de fórmula 1 mesmo... hehehe

Mas será que as pessoas tem coragem de ter um filho apenas para "aparecer" ou algo desse tipo? Isso é caso para psiquiatra! rs

Ci... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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