quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mais um texto da Danuza Leão!


Passamos este Reveillon em casa, a dois. Muita gente acha isso "anormal"...

E tem um texto da Danuza Leão que fala muito bem desse assunto. Chama-se "Agora é tarde":


“Ela foi educada de maneira diferente: não devia ligar para as datas estabelecidas, tipo o dia das crianças, o das mães ou o Natal. Desde pequenininha ouviu dizer que dia das mães e das crianças é todo dia , e o Natal, apenas uma data inventada. Foi batizada e fez a primeira comunhão, mas ficou por aí mesmo, e nunca festejou data como fazem as famílias tradicionais.
O tempo passou, e quando chegou a hora passou a fazer para os filhos o mesmo discurso que ouviu dos pais; nunca armou um pinheiro, botou um enfeite na casa, mandou assar um peru ou comprou brinquedo para as crianças. Peru assado sim, mas em junho; presentes, em qualquer dia do ano, menos nas datas marcadas – e por aí foi.
Quando uma amiga falava da famosa lista e reclamava que nos shoppings não se pode andar e que nas ruas não se tem onde estacionar, assumia um ar superior e contava que ela estava livre dessas amolações, que os filhos entendiam, ponto final. E graças a Deus.
Mas os filhos cresceram e se casaram com pessoas de outras famílias, famílias que sempre fizeram tudo como ficou combinado. E como os filhos de seus filhos foram educados por suas respectivas mães, acabaram fazendo tudo o que ela sempre havia tentado negar; mas tudo bem, a vida é assim mesmo. Só que com o bombardeio na televisão e na imprensa, ela se sentiu lutando contra o mundo inteiro e resolveu fazer um esforço. Foi passar um Natal em casa do filho e da nora, e a visão da árvore e das rabanadas (que ela adorava, mas não em dezembro), somada às músicas natalinas, foi dose. Jurou que nunca mais.
Mas a pressão externa é grande, e começou a acontecer o pior: nem conseguia tomar parte na festa nem conseguia ficar sozinha e em paz, como antigamente; em qualquer das duas situações, se sentia perfeitamente desconfortável. E agora?
(...)
Foi quando começou a se questionar se não seria mais fácil fazer como todo mundo. Afinal, o que custava comprar um pinheiro, pendurar umas bolinhas vermelhas e coroas a obra jogando um spray dourado em cima? E, afinal, comprar meia dúzia de presentes não mata ninguém.
Preparou o espírito e a casa, comprou os presentes, mandou fazer as comidas mais tradicionais e esperou pela família. A família inteira, bem entendido.
Ela não tinha a menor idéia sobre a hora de abrir os presentes: seria antes ou depois do jantar? Ou seria à meia-noite? Como as crianças estavam impacientes, resolveu liberar geral bem cedo, para que não se falasse mais no assunto – quanta inocência.
Lá pelas 10, 10h30, começou a haver um movimento muito claro: estavam todos indo embora, pois iam passar na casa das outras avós, e as crianças já estavam um pouco histéricas, pensando nos outros presentes que iam ganhar. Criança é muito interesseira e não sabe disfarçar.
Moral da história: às 11 ela estava tão sozinha quanto nos outros anos. A única diferença: a casa estava um caos.
E ficou pensando que podia ter ficado tranquilamente lendo um livro, e que isso não seria nenhuma tragédia.
É exatamente o que vai fazer no próximo ano, pensa, enquanto termina de pôr ordem na casa.”

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